Há dois anos, estava
eu a completar a idade vista – por noventa e nove por cento das garotas – como
mágica: quinze anos. Ali florescia em mim inúmeros sonhos, belíssimos, pintados
com todas as cores que a vida nos dá direito de enfeitar os nossos dias.
Eu, porém, não
segui o padrão que, incompreensivelmente, as recém-moças parecem estabelecer. O
primeiro deles é, sem dúvida, a grande festa: quinze amigas para fazer o
esperado brinde, um vestido gigantesco, o título de debutante e um suposto
príncipe encantado para dançar a valsa. O segundo é que parece regra imposta
pelo coração: tem que se achar um namorado. O primeiro namorado. E admitir com
a sociedade certa independência: tirar fotos em lugares agitados e mostrar que,
a partir de então, é madura o suficiente para ser dona do próprio nariz. Da
gigante comemoração, nunca fiz questão. Do namorado, percebi que se desesperar
por isso era algo extremamente desnecessário. Sobre a independência, me iludi , nos primeiros meses, que a gente realmente alcança, mas descobri, depois, que a gente nunca
é completamente dona si.
Nas minhas
quinze primaveras, aconteceram seis coisas: minha irmã – uma das pessoas mais
importantes da minha vida – nasceu no mês de janeiro, pintei os cabelos de loiro
em março, entrei para a academia em busca do corpo perfeito em abril, engajei
efetivamente na Igreja e, ao mesmo tempo, conheci o amor da minha vida (Francisco
Alisson) em setembro e resolvi arriscar a prova do Instituto no qual estudo
assim que abriram as inscrições. Sobre minha irmã: graças a Deus, tem feito
minha vida feliz desde que Cristo consentiu o dom de sua vida. Da tintura, me
restaram alguns fios loiros que se perdem em meio à cor natural dos meus
cabelos. Depois de um ano afastada e de ter emagrecido bruscamente, retornei às
atividades físicas há pouco tempo. Minha fé se firmou ainda mais em Cristo e
peço a Ele que eu jamais me desvirtue da caminhada (foi encontrá-Lo a maior
bênção que me poderia ter acontecido) e, também graças a Deus, como tudo em
minha vida, estou com meu namorado e sei que, pelo consentimento do meu Pai
Soberano, ficaremos juntos para sempre. Fui aprovada no IFRN – Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – e eis que
tenho crescido muito por lá.
Quando
completei dezesseis, pensei em redigir algumas palavras, mas me dei conta de
que um ano não é suficiente para que a gente perceba o que mudou em si mesma:
se é difícil perceber o que se transformou por fora, quem dirá no interior,
onde as emoções precisam ser regradas para que a gente consiga se permitir
crescer. Deixei que mais um ano passasse e eu tirasse lições únicas para que conseguisse
me edificar como um ser humano melhor.
Entre uma
tentativa e outra de ser muito mais luz que fins de túnel e bem mais impulso
que desânimo de quem se agregou ao fim do poço, caí muitíssimas vezes. Em
várias delas, pensei eu que não teria forças para me resgatar dos ferimentos
que me permiti serem feitos. É que, na vida, certas coisas são bem mais
consequências do que acasos. Apesar da fraqueza que outrora quase não me deixou
reencontrar a Bárbara que havia se perdido, senti a mão de Deus me tocar e me
tomar nos braços, como um pai faz com seu filho: acolhe. A Luz do Divino
Espírito me irradiou não só os olhos, mas muito mais alma, e me fez entender
que se render às quedas não é sequer um passo para superar os desafios que a
vida – goste a gente ou não – precisa impor.
Eis que
descobri defeitos em mim antes desconhecidos e que se encontram, hoje, em fase
de otimização. Tenho tentado cicatrizar as dores que me partiram o peito e
seguir em frente sem deixar que as coisas que deram errado no passado me
angustiem os dias ou me ceguem a direção. Porque, no fim das contas, percebi
que é para frente que se anda e é preciso se educar para manter a vida leve,
mas aprontada para carregar os fardos que comumente irão aparecer.
Continuei,
nesse período de vinte e quatro meses, a ser loucamente apaixonada por palavras
e a tentar escrever algo que tocasse o coração de quem me lê: porque em cada termo
deixo que um pouco de mim transborde. Isso foi uma das coisas que, no decorrer
dos meses, nunca mudaram em mim e hei de preservar até o fim de meus dias.
Em meio às
novidades que me apareceram, descobri quão poderoso é o poder de intercessão da
Virgem Maria e vi que, verdadeiramente, Ela nos leva aos braços de Jesus: Rei,
Senhor e Salvador da minha vida, que de mim toma conta, sobretudo, quando Lhe
conto que preciso de Suas mãos para me conduzir, muito mais que os pés, os
passos.
Com um
sentimento muito bonito que me invadiu o mais íntimo de mim agora que
completei, graças a Deus, meus dezessete anos, reconheci e esclareci inúmeros
fatos à mim mesma e que espero, de coração, que faça você, caro leitor, pensar
também sobre si e a vida que você borda todos os dias.
A primeira
coisa que concluí – de muitas, mas de algumas que aqui irei citar – é que não
existe idade exata para se dizer que é grande ou maduro. Que o tempo sempre
disponibiliza fulgor e júbilo, e cabe a cada um de nós abraçarmos isso todos os
dias. Também que crescer é muito mais sentimento que um processo e não existe
um limite em que se atinge o auge do conhecimento: porque o mundo não para de
girar e os fatos são muitos para que a gente aprenda e se transforme com eles.
Compreendi que
o amor é o mais puro de todos os sentimentos e desperta coragens e virtudes
jamais imagináveis de viver dentro do nosso ser e faz a gente florescer para
quem verdadeiramente se é: porque a essência de amar é reconhecer as
qualidades, aceitar os defeitos e buscar melhorá-los – mesmo que neste longo
período os cortes causados sejam árduos. Porque amor é dor, mas é, acima de
tudo, cura.
Aceitei a
ideia de que não se deve ter vergonha de ser quem é e que manter a cara limpa e
o coração transparente para quem quer que seja é muito mais um ato de
honestidade que coragem. E que ver a vida com bons olhos não se trata de
ingenuidade, mas de um ingrediente que faz falta num mundo tão sombrio e visto
com indiferença: esperança.
A vida não é
fácil, mas a gente pode não complicar. Um dia passa rápido, mas vinte e quatro
horas é tempo suficiente para que se percorra mais um caminho por onde se
precisa passar para alcançar o que se sonha. Não sou independente e estou longe
disso: preciso da minha mãe e da minha avó como uma criança que ainda não sabe
andar direito e é por isso que peço muito a Deus que me ajude a conduzir minhas
próprias marchas porque tenho tentado aderir à ideia de que, no fim das contas, ninguém dura, neste mundo, para sempre. Choro com a mesma facilidade que riu e espero permanecer
assim: mergulhada na intensidade das minhas emoções, mas, dessa vez, com discernimento
suficiente para que meus olhos não deixem de enxergar o que deve ser feito.
De tudo que há
nessa vida, peço a Deus que caminhe sempre ao meu lado e me permita ver e viver
aquilo que há de mais sereno. Que minh’alma não desinquiete diante das
tribulações e eu seja amparo e farol para todos aqueles que estão ao meu redor.
Rogo a Cristo que não me falte entusiasmo para colorir as páginas cinzas que
insistem em aparecer no livro da nossa vida e eu seja forte o suficiente para
não me desvirtuar dos princípios que, a partir de então, quero aperfeiçoar em
mim. Ser nova, ser livre, ser renovada e, antes de tudo, Bárbara: com todas as
marcas que me compõem e a candura que costuro em tudo que faço – principalmente
naquilo que, no decorrer do tempo me faz, verdadeiramente — ser.