sábado, 3 de setembro de 2016

Ivete Sangalo e a nossa Descoberta de Deus (oi?!)


Numa dessas noites em que o sono não chega e a gente tem com quem dividir a situação, estava eu a falar sobre Deus com uma amiga. Entre tantas partilhas sobre a Alegria de descobri-lO Vivo e Ressuscitado entre nós, lembrei, repentinamente, de uma música de Ivete Sangalo, cuja eu escutava anos atrás: “Agora eu já sei”. Estranho, né? Mas pode de ser que não.
           
Muitos casais usam a letra da canção para se declararem; já eu, sabia que a cantora havia a escrito no período que soube de sua gravidez, e, portanto, a música foi feita para a sua criança. Nessa noite, porém, um contexto inteiramente novo se formou em minha mente: mais do que qualquer outra coisa, se pararmos pra ouvir com o coração, “agora eu já sei” traduz, em doce e arrebatadora leveza, a nossa impactante caminhada no descobrimento de Deus.
         
“Duvidava, não entendia, quando alguém me falou”: somos assim quando ouvimos falar do Verdadeiro Amor. A gente não acredita, não bota fé, acha careta, “conversa de doido”. Surgem os questionamentos, as indagações, as dúvidas, desconfianças, incertezas... Surge o nosso grito, lá no fundo da alma... E se for verdade? Acostumados que estamos a chamar tantas coisas de amor e vê-las se desfazerem num piscar de olhos, é realmente duro crer no primeiro instante que possa existir Alguém capaz de nos amar exatamente como somos e nos querer mesmo conhecendo nossas misérias. Sim, as misérias! Podemos afirmar não tê-las, mas no fundo, lá no fundo, sabemos das nossas culpas, reconhecemos nossas imperfeições, e é exatamente por causa delas que duvidamos tanto da nossa verdadeira identidade de filhos do Pai Eterno.
            
“Suspirava, que agonia pra sentir Esse Amor!”: após ouvirmos falar dEsse Amor Infinito com o qual somos amados, mesmo em meio às dúvidas, nos inquietamos. Ansiamos, desejamos ardentemente, a todo custo, ter a Prova, a Experiência de tocar o Lado Aberto de Cristo, de Onde jorra toda a fonte de Amor através de Seu Sangue e Sua Água. Ficamos agoniados, porque é urgente sermos amados de verdade. Ficamos esperançosos, porque é fascinante descobrir, em Deus, todo o nosso valor.

            
“Tempo, mestre de todas horas e dias, passam sem ver”: esse “tempo mestre de todas as horas e dias” constitui a nossa caminhada para o Céu, desde nosso primeiro Contato com O Deus Vivo, até nosso presente momento. São tantos encontros, missas, orações, retiros, leituras orantes da Bíblia, tantas adorações... E, nesse percurso, que só se conclui no Paraíso, vamos sendo moldados. Todos os dias, nossa abertura de coração para Deus Lhe dá espaço para trabalhar em nós. Assim, somos reerguidos das quedas. Assim, nossas manchas começam a serem lavadas pelo Sangue Incorruptível do Cordeiro. Assim, as feridas que nossas imperfeições abriram em nossa alma são cicatrizadas por Deus. As tristezas dão lugar ao mais terno sorriso. As culpas e os pesos se esvaem, para que superabunde em nós a Misericórdia do Ressuscitado que passou pela Cruz. O que era morto, ganha vida; nos nossos desertos jorra a Água que mata a nossa sede; e nossa alma encontra o Pão que sacia a nossa fome. Não percebemos de imediato, mas, a cada “sim” desejoso do Amor, somos transformados pela Graça de Deus.

"Te amar de verdade, sentir saudade, mas só de Você, só de Você!": à medida que caminhamos com Jesus e O reconhecemos como nosso Amigo, Irmão e Esposo de nossas almas, passamos a ama-lO com toda a nossa força, com toda a nossa vida. Sentimos saudade dEle quando estamos distantes; Sua falta esfria nosso coração quando não damos falamos com Ele, e isso acontece porque, por Pura Misericórdia, conhecedores do Amor de Deus, descobrimos que só faz Sol no céu de nossas vidas quando O deixamos entrar para aquecer o nosso coração.



"Agora eu já sei: quando falta respiração, é a prova que um coração já não sabe mais viver sem Você": a dificuldade em respirar pode ser aqui compreendida como os momentos de deserto e aridez que enfrentamos ao longo de nossa grande Jornada. Falta-nos o ar, porque Cristo é o próprio Oxigênio que nos faz viver. Entristecemo-nos, porque sabemos que só podemos ser felizes se tivermos uma vida intimamente ligada à Vida do Amado Jesus. Angustiamo-nos, porque sabemos que só seremos livres se estivermos presos a Deus. A partir disso, podemos contemplar os momentos de "secura" na fé para renovarmos a Experiência de beber da Água da Fonte da Vida, que vem do Senhor; para reconhecermos nossa total dependência de Cristo e nos prostrarmos inteiramente aos Seus Pés, entregando a Ele tudo que temos e tudo que somos, na certeza concreta de que Ele é Tudo para nós. É tempo de se deixar florescer outra vez para, germinando as sementes de Eternidade plantadas em nós, voltarmos ao Primeiro Amor: Aquele que descobrimos e, desde então, transformou nosso destino para sempre.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Estar em par

Cansam-me as declarações tão vazias e mais ainda os que tentam preencher lugar de amor com palavras bonitas. Incomoda-me quase que indescritivelmente a relação a dois sem pensar em futuro, as mãos dadas sem desejo inflamado de assim permanecerem, beijos sem singularidade, desses que tanto faz em quem é dado; abraço sem refúgio, olhar sem porto-seguro, carinho sem emoção e leveza. É banal e triste a entrega pela metade, manter um namoro sem vontade, estar junto só por achar aquele alguém bacana — gente bacana tem de sobra por aí. Com isso não quero impor eternidades, decretar obrigatoriedade de para-sempre mesclado a finais felizes, menos ainda abraçar a causa de que as pessoas devem ficar com aquela mesma companhia a vida inteira: há motivos aos montes que podem ser o pontapé para um fim não desejado ou a desculpa necessária para encerrar o que nunca deveria ter tido sequer um início.

O que aqui abordo, porém, é a farsa e a frieza das quais tantos casais se alimentam, a pouca diferença que existe entre estar solteiro ou comprometido, o fazer do outro objeto. Sob minha visão não da mente, mas da alma, acredito que se é para ser pouca coisa ou estar com alguém e tê-lo como um qualquer é preferível que entre nessa história de "ficar" ou que, antes que algum coração saia despedaçado, ponha fim no namoro e viva sua liberdade de acordo com o que ela lhe significa.

Se namorar é prisão, comprometer-se é deixar de ser livre e trair é quase necessidade porque "tempo demais com uma pessoa só enjoa", então não embarque no oceano que é um relacionamento, porque, sem resquícios de dúvidas, você não está preparado.

Estar na vida de alguém e ter alguém na sua requer, ainda que pareça clichê, muito amor. Ele é nutriente fundamental para que as coisas caminhem sempre rumo a darem cada vez mais certo. A gente precisa ser paciente, porque o outro tem defeitos que nos incomodam e entristecem, e isso é recíproco da nossa parte para com quem estamos. Entretanto, essa parte da história é deliciosa quando existe o ingrediente principal que aqui já foi citado, uma vez que ele floresce a vontade do casal em crescer junto e aprender em par, não separadamente. É mais do que preciso ter coragem de dizer o que machuca, abrir mão de algumas coisas em sinal de total respeito, deixar, tantas vezes, que a raiva passe, e aprender quando dá para guardar certas palavras porque o motivo que as fez serem pensadas não merece relevância.

Sonhar com casamento, vida a dois, viagens, ser apoio na hora da queda e prestígio nas conquistas são frutos tranquilamente colhidos de um casal que se rega com sinceridade, que deixou de ser dois para ser um só em decorrência de um querer honesto, de um cuidado verídico, de um amor que existe e se manifesta nos detalhes. A gente, quando namora com sentimentos assim e são recíprocos, não acha fardo pensar em dividir louça suja, lavar casa, juntar as escovas de dentes. A liberdade é estar junto, não ter vergonha de ser quem é e ter certeza de que é muito amado assim, de que o outro não quer da gente mais de que sejamos quem realmente somos. E por causa disso, não há necessidade de outro beijo, outro toque, outra troca de olhares, outro choque quando as mãos se encontram: o coração sabe quando está completo e quando encontra um lugarzinho cheio de paz em alguém.

Eu sei que existem as brigas, os desentendimentos, aqueles dias em que a vontade de empurrar é mais forte que a de puxar para perto, mas isso também faz parte, já que a vida não é, em nenhuma de suas esferas, um mar de rosa sem espinho. A diferença é que, quando o namoro é concreto, nesse meio tempo o perdão não só nasce, como também passa a ser cultivado e traz consigo as renovações necessárias para que o amor não desmanche e uma vida inteira com aquela pessoa seja sinônimo de plenitude, não de peso.

Prolongaria o que aqui escrevo por dias, mas creio que o principal já foi dito. A grande questão é, enfim, que casal que se ama, se soma. Estar com alguém que a gente quer de verdade é aconchego, não fardo. Em tempos de prazeres passageiros e sentimentos momentâneos, fico ao lado do que é eterno, do que se prolonga, do que se infinita diariamente através de pequenas ações responsáveis pela construção de um futuro incrível.

Amor é amor. Se os cuidados e as responsabilidades advindas dele lhe são cargas pesadas demais para levar em frente, enfrente o fato de que você ainda não se abriu de verdade a esse sentimento tão inexplicável de ser sentido.

(Para o meu e todos os outros relacionamentos, desejo toda a bênção de Deus, para que cresçam na fidelidade, na cumplicidade e repleto de um amor verdadeiramente fecundo).


segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Carta aos três

Meus queridos irmãos,

Já fazem quase dois anos que nessa mesma página lhes escrevi, ainda que indiretamente. Prestei atenção nisso porque tenho incansavelmente lembrado, esses dias, de vocês, e me veio à mente o desabafo que há considerável tempo por mim foi feito.

De modo singelo, admito que entristeço-me quando lembro que não os vi aprenderem a caminhar com as próprias pernas, trocarem os dentes de leite pelos permanentes, aprenderem a ler e todos esses detalhes que marcam as nossas mudanças e os primeiros amadurecimentos da vida; mas feliz em ver que os tenho tão sadios e que me acolhem tão lindos como a irmã mais velha, como a "minha irmã". 

Abro parênteses para deixar claro ao irmão do meio que fiquei apaixonada pelo pronome possessivo introduzido à característica que me pertence — mais do que também ser de vocês, me aconchega saber que, reciprocamente, me querem.

Em nosso último encontro, brincamos juntos e fui presenteada com todo amor que cabe nesses três coraçõezinhos. Deitei no colo de um, recebi carinho do outro, ganhei abraço do mais novo que realizou o ato sob ordem do mais velho. Fui defendida de um golpe do primo que levei no meio da brincadeira e tratada como a menina de vocês. Me vi completa e realizada de modo tal que apenas Deus consegue entender e discernir tudo que fizeram florescer em minh'alma e está sendo regado, com tanta doçura, diariamente. Parece coisa pouca,  mas, no meu caso, enxergar que vocês cresceram e me têm como parte de suas vidas é uma emoção única, ímpar e forte.

Isso tudo que aconteceu (quem me dera fosse mais constante!) tem me feito sentir ainda mais saudade de vocês e ansiedade para revê-los, porque sei que agora obtenho um afeto que sempre fez parte de meus sonhos e sou querida na mesma medida em que ambos foram e são desde muito tempo em minha vida. O que acontece após cada encontro desse é a alimentação da minha esperança em estender nosso elo, ampliar nosso laço, firmar nosso vínculo que, mais que sanguíneo, precisa ser de alma. Nutro com vigor o amor que aqui pulsa por simplesmente terem nascido, por serem meus irmãos e, com isso, componentes importantíssimos do meu eu; porque creio que logo poderemos ser próximos de verdade sem depender de outrem, apenas da nossa vontade de estarmos, mais do que juntos, unidos.

Nosso tempo está chegando, eu sei disso. Enquanto isso, entrego suas vidas nas mãos do Pai e peço que por Ele sejam sempre guardados e conduzidos na Luz e para a Luz. Que a Virgem Maria, mãe de Jesus, envolva-os em Seu manto de amor e interceda ao Seu Filho, Nosso Salvador, por todos os sonhos que colorem a mente e a vida de vocês três. Amo cada um e repito, aqui em meus escritos, já que a garganta dá um nó quando tento dizer pessoalmente, que meu braços estão escancarados para receber vocês, hoje e sempre; que torço para tê-los junto à mim frequentemente e para que nossa ligação transborde em amor.

Com amor e saudade,

Bárbara.



terça-feira, 8 de abril de 2014

Descasos do dia a dia



Depois das notícias que marcaram a mídia nos últimos dias e as manifestações femininas — e até masculinas — transluzindo a revolta contra as opiniões que alegavam que mulher com roupa curta merece ser estuprada e as que sofrem violência doméstica e não denunciam é porque gostam de apanhar, recordei dos grandes protestos que aconteceram em junho de 2013: o aumento dos vinte centavos na passagem dos transportes públicos despertou a consciência do povo brasileiro para os demais absurdos e descasos com a saúde e educação do país. As mais diversas cidades aderiram à causa e saíram em manifestação, cheia de orgulho, nas afirmativas de que o Gigante havia acordado. E agora, dormiu outra vez?

O que outrora me fazia brilhar os olhos e sentir admiração por esse povo cheio de coragem e determinado a transformar o que lhe fosse possível e, pela bravura, até impossível, hoje me faz apenas lamentar — porque tudo não passou do calor do momento. Quando a situação complica e por alguns dias os desastres saem do esconderijo, é hora de se entrar em ação; isso parece natural, mas enxergo como um sinal terrível: é somente nesse tempo de exteriorizar as insatisfações que as pessoas atentam à realidade. Os dias anteriores e os que sucedem depois que as hashtags inspiradoras desaparecem das redes são absolutamente normais e tudo está (omitidamente) bem.

No ano passado, o alarde se referiu ao problema citado nos parágrafos anteriores: serviços públicos oferecidos com o mínimo de qualidade à população. Findaram-se os protestos e igual continuou a vida. Já no ano em que nos encontramos, a vez é dos estupros. Foram as afirmações "mulher com roupa curta merece ser estuprada" e "mulher que apanha do marido e não denuncia é porque gosta" que repercutiram em todo o país e impulsionaram as mulheres das mais variadas idades a pousarem para fotos seminuas e acompanhadas de um cartaz com o dito: Eu Não Mereço Ser Estuprada.

De início, a nova campanha na Internet me despertou uma euforia repentina de ver a reação das pessoas contra essa forma de pensamento opressor. Foi, entretanto, questão de um dia para que minha mente inquieta me fizesse pesquisar e organizar as ideias sobre o que acontece — e mais uma vez a gente fica sem se dar conta.

A verdade é que, assim como a gente finge não enxergar aquela escola pública que não funciona e aquele hospital em condições precárias de higiene básica e sem leitos de UTI, despercebe também as músicas que denigrem a imagem da mulher. E muitas são as que escutam. E dançam no ritmo. E se deixam levar como, de fato, aquele objeto sexual que diz a letra. O costume é seguir modismos e fazer rebelião quando alguma atrocidade invade a tela da TV. Mas a gente — seja mulher ou quem também abraça a causa — se deixa estuprar todos os dias. Com aquele comentário desprezível sobre nossas pernas ou peitos. Com aquele olhar desrespeitoso que a gente não reclama nem para si mesma. Com aquele tapa que levou do marido mas deixa de lado porque "foi só na hora da raiva". A gente não se importa com esses detalhes porque parecem frívolos: mas são eles que promovem notícias como estas recentes que causaram tanto impacto em quem viu e ouviu.

Abomino e acho horripilante um ser humano dizer que outro ser humano mereça ser violentado: sim, violentado; porque sexo não é obrigação, tamanho de roupa nunca foi convite e a raça humana nunca foi tão perversa. Pancadaria num ambiente que deveria ser chamado verdadeiramente família não se justifica baseada em discussões porque o amor simplesmente sabe ser conversativo, paciente e capaz de estender os braços para o perdão ao invés de levantar a mão para um tapa.

Essas atrocidades acontecem todos os dias, mas passam em branco. Quando as porcentagens aterrorizantes são proclamadas em noticiários, nos escandalizamos e fazemos por, no máximo uma semana, campanhas para acabar com o dilema, na ingênua forma de pensar que é na atitude de um ou dois dias que o caos será amenizado. Mas é só abaixar a poeira e os dias voltarem a seguir como de costume que nós, antigos gigantes acordados, adormecemos outra vez. Os problemas continuam de pé a nos atropelar e esmagar nossa face na vergonha e miséria a que somos submetidos em pequenas coisas que, na nossa ignorância, não fazem a menor diferença — mas, no fundo, contam bastante. O respeito por nós mesmas e pelos outros começa de agora e deve progredir por todos os dias. Não se pode mais esperar por grandes coisas para manifestar nossa condição de ser humano, de ser gente e de merecer uma vida verdadeiramente livre: a luta por isso é diária e se expande com o nutrir de pequenas sementes de gentileza e olhar pueril para o outro que nos dão poderosos frutos na colheita.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Dezessete



Há dois anos, estava eu a completar a idade vista – por noventa e nove por cento das garotas – como mágica: quinze anos. Ali florescia em mim inúmeros sonhos, belíssimos, pintados com todas as cores que a vida nos dá direito de enfeitar os nossos dias.

Eu, porém, não segui o padrão que, incompreensivelmente, as recém-moças parecem estabelecer. O primeiro deles é, sem dúvida, a grande festa: quinze amigas para fazer o esperado brinde, um vestido gigantesco, o título de debutante e um suposto príncipe encantado para dançar a valsa. O segundo é que parece regra imposta pelo coração: tem que se achar um namorado. O primeiro namorado. E admitir com a sociedade certa independência: tirar fotos em lugares agitados e mostrar que, a partir de então, é madura o suficiente para ser dona do próprio nariz. Da gigante comemoração, nunca fiz questão. Do namorado, percebi que se desesperar por isso era algo extremamente desnecessário. Sobre a independência, me iludi , nos primeiros meses, que a gente realmente alcança, mas descobri, depois, que a gente nunca é completamente dona si.

Nas minhas quinze primaveras, aconteceram seis coisas: minha irmã – uma das pessoas mais importantes da minha vida – nasceu no mês de janeiro, pintei os cabelos de loiro em março, entrei para a academia em busca do corpo perfeito em abril, engajei efetivamente na Igreja e, ao mesmo tempo, conheci o amor da minha vida (Francisco Alisson) em setembro e resolvi arriscar a prova do Instituto no qual estudo assim que abriram as inscrições. Sobre minha irmã: graças a Deus, tem feito minha vida feliz desde que Cristo consentiu o dom de sua vida. Da tintura, me restaram alguns fios loiros que se perdem em meio à cor natural dos meus cabelos. Depois de um ano afastada e de ter emagrecido bruscamente, retornei às atividades físicas há pouco tempo. Minha fé se firmou ainda mais em Cristo e peço a Ele que eu jamais me desvirtue da caminhada (foi encontrá-Lo a maior bênção que me poderia ter acontecido) e, também graças a Deus, como tudo em minha vida, estou com meu namorado e sei que, pelo consentimento do meu Pai Soberano, ficaremos juntos para sempre. Fui aprovada no IFRN – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – e eis que tenho crescido muito por lá.

Quando completei dezesseis, pensei em redigir algumas palavras, mas me dei conta de que um ano não é suficiente para que a gente perceba o que mudou em si mesma: se é difícil perceber o que se transformou por fora, quem dirá no interior, onde as emoções precisam ser regradas para que a gente consiga se permitir crescer. Deixei que mais um ano passasse e eu tirasse lições únicas para que conseguisse me edificar como um ser humano melhor.

Entre uma tentativa e outra de ser muito mais luz que fins de túnel e bem mais impulso que desânimo de quem se agregou ao fim do poço, caí muitíssimas vezes. Em várias delas, pensei eu que não teria forças para me resgatar dos ferimentos que me permiti serem feitos. É que, na vida, certas coisas são bem mais consequências do que acasos. Apesar da fraqueza que outrora quase não me deixou reencontrar a Bárbara que havia se perdido, senti a mão de Deus me tocar e me tomar nos braços, como um pai faz com seu filho: acolhe. A Luz do Divino Espírito me irradiou não só os olhos, mas muito mais alma, e me fez entender que se render às quedas não é sequer um passo para superar os desafios que a vida – goste a gente ou não – precisa impor.

Eis que descobri defeitos em mim antes desconhecidos e que se encontram, hoje, em fase de otimização. Tenho tentado cicatrizar as dores que me partiram o peito e seguir em frente sem deixar que as coisas que deram errado no passado me angustiem os dias ou me ceguem a direção. Porque, no fim das contas, percebi que é para frente que se anda e é preciso se educar para manter a vida leve, mas aprontada para carregar os fardos que comumente irão aparecer.

Continuei, nesse período de vinte e quatro meses, a ser loucamente apaixonada por palavras e a tentar escrever algo que tocasse o coração de quem me lê: porque em cada termo deixo que um pouco de mim transborde. Isso foi uma das coisas que, no decorrer dos meses, nunca mudaram em mim e hei de preservar até o fim de meus dias.

Em meio às novidades que me apareceram, descobri quão poderoso é o poder de intercessão da Virgem Maria e vi que, verdadeiramente, Ela nos leva aos braços de Jesus: Rei, Senhor e Salvador da minha vida, que de mim toma conta, sobretudo, quando Lhe conto que preciso de Suas mãos para me conduzir, muito mais que os pés, os passos.
Com um sentimento muito bonito que me invadiu o mais íntimo de mim agora que completei, graças a Deus, meus dezessete anos, reconheci e esclareci inúmeros fatos à mim mesma e que espero, de coração, que faça você, caro leitor, pensar também sobre si e a vida que você borda todos os dias.

A primeira coisa que concluí – de muitas, mas de algumas que aqui irei citar – é que não existe idade exata para se dizer que é grande ou maduro. Que o tempo sempre disponibiliza fulgor e júbilo, e cabe a cada um de nós abraçarmos isso todos os dias. Também que crescer é muito mais sentimento que um processo e não existe um limite em que se atinge o auge do conhecimento: porque o mundo não para de girar e os fatos são muitos para que a gente aprenda e se transforme com eles.

Compreendi que o amor é o mais puro de todos os sentimentos e desperta coragens e virtudes jamais imagináveis de viver dentro do nosso ser e faz a gente florescer para quem verdadeiramente se é: porque a essência de amar é reconhecer as qualidades, aceitar os defeitos e buscar melhorá-los – mesmo que neste longo período os cortes causados sejam árduos. Porque amor é dor, mas é, acima de tudo, cura.

Aceitei a ideia de que não se deve ter vergonha de ser quem é e que manter a cara limpa e o coração transparente para quem quer que seja é muito mais um ato de honestidade que coragem. E que ver a vida com bons olhos não se trata de ingenuidade, mas de um ingrediente que faz falta num mundo tão sombrio e visto com indiferença: esperança.

A vida não é fácil, mas a gente pode não complicar. Um dia passa rápido, mas vinte e quatro horas é tempo suficiente para que se percorra mais um caminho por onde se precisa passar para alcançar o que se sonha. Não sou independente e estou longe disso: preciso da minha mãe e da minha avó como uma criança que ainda não sabe andar direito e é por isso que peço muito a Deus que me ajude a conduzir minhas próprias marchas porque tenho tentado aderir à ideia de que, no fim das contas, ninguém dura, neste mundo, para sempre. Choro com a mesma facilidade que riu e espero permanecer assim: mergulhada na intensidade das minhas emoções, mas, dessa vez, com discernimento suficiente para que meus olhos não deixem de enxergar o que deve ser feito.

De tudo que há nessa vida, peço a Deus que caminhe sempre ao meu lado e me permita ver e viver aquilo que há de mais sereno. Que minh’alma não desinquiete diante das tribulações e eu seja amparo e farol para todos aqueles que estão ao meu redor. Rogo a Cristo que não me falte entusiasmo para colorir as páginas cinzas que insistem em aparecer no livro da nossa vida e eu seja forte o suficiente para não me desvirtuar dos princípios que, a partir de então, quero aperfeiçoar em mim. Ser nova, ser livre, ser renovada e, antes de tudo, Bárbara: com todas as marcas que me compõem e a candura que costuro em tudo que faço – principalmente naquilo que, no decorrer do tempo me faz, verdadeiramente — ser.