Numa dessas noites em que o sono não chega
e a gente tem com quem dividir a situação, estava eu a falar sobre Deus com uma
amiga. Entre tantas partilhas sobre a Alegria de descobri-lO Vivo e
Ressuscitado entre nós, lembrei, repentinamente, de uma música de Ivete
Sangalo, cuja eu escutava anos atrás: “Agora eu já sei”. Estranho, né? Mas pode
de ser que não.
Muitos casais usam a letra da canção para
se declararem; já eu, sabia que a cantora havia a escrito no período que soube
de sua gravidez, e, portanto, a música foi feita para a sua criança. Nessa
noite, porém, um contexto inteiramente novo se formou em minha mente: mais do
que qualquer outra coisa, se pararmos pra ouvir com o coração, “agora eu já
sei” traduz, em doce e arrebatadora leveza, a nossa impactante caminhada no descobrimento
de Deus.
“Duvidava, não entendia, quando alguém me
falou”: somos assim quando ouvimos falar do Verdadeiro Amor. A gente não
acredita, não bota fé, acha careta, “conversa de doido”. Surgem os
questionamentos, as indagações, as dúvidas, desconfianças, incertezas... Surge
o nosso grito, lá no fundo da alma... E se for verdade? Acostumados que estamos
a chamar tantas coisas de amor e vê-las se desfazerem num piscar de olhos, é
realmente duro crer no primeiro instante que possa existir Alguém capaz de nos
amar exatamente como somos e nos querer mesmo conhecendo nossas misérias. Sim,
as misérias! Podemos afirmar não tê-las, mas no fundo, lá no fundo, sabemos das
nossas culpas, reconhecemos nossas imperfeições, e é exatamente por causa delas
que duvidamos tanto da nossa verdadeira identidade de filhos do Pai Eterno.
“Suspirava, que agonia pra sentir Esse
Amor!”: após ouvirmos falar dEsse Amor Infinito com o qual somos amados, mesmo
em meio às dúvidas, nos inquietamos. Ansiamos, desejamos ardentemente, a todo
custo, ter a Prova, a Experiência de tocar o Lado Aberto de Cristo, de Onde
jorra toda a fonte de Amor através de Seu Sangue e Sua Água. Ficamos agoniados,
porque é urgente sermos amados de verdade. Ficamos esperançosos, porque é fascinante
descobrir, em Deus, todo o nosso valor.
“Tempo, mestre de todas horas e dias,
passam sem ver”: esse “tempo mestre de todas as horas e dias” constitui a nossa
caminhada para o Céu, desde nosso primeiro Contato com O Deus Vivo, até nosso
presente momento. São tantos encontros, missas, orações, retiros, leituras
orantes da Bíblia, tantas adorações... E, nesse percurso, que só se conclui no
Paraíso, vamos sendo moldados. Todos os dias, nossa abertura de coração para
Deus Lhe dá espaço para trabalhar em nós. Assim, somos reerguidos das quedas.
Assim, nossas manchas começam a serem lavadas pelo Sangue Incorruptível do
Cordeiro. Assim, as feridas que nossas imperfeições abriram em nossa alma são
cicatrizadas por Deus. As tristezas dão lugar ao mais terno sorriso. As culpas
e os pesos se esvaem, para que superabunde em nós a Misericórdia do
Ressuscitado que passou pela Cruz. O que era morto, ganha vida; nos nossos
desertos jorra a Água que mata a nossa sede; e nossa alma encontra o Pão que sacia
a nossa fome. Não percebemos de imediato, mas, a cada “sim” desejoso do Amor,
somos transformados pela Graça de Deus.
"Te amar de verdade, sentir saudade,
mas só de Você, só de Você!": à medida que caminhamos com Jesus e O
reconhecemos como nosso Amigo, Irmão e Esposo de nossas almas, passamos a
ama-lO com toda a nossa força, com toda a nossa vida. Sentimos saudade dEle
quando estamos distantes; Sua falta esfria nosso coração quando não damos
falamos com Ele, e isso acontece porque, por Pura Misericórdia, conhecedores do
Amor de Deus, descobrimos que só faz Sol no céu de nossas vidas quando O
deixamos entrar para aquecer o nosso coração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário